Recentemente, um famoso pastor de uma megaigreja em Nova York (a quem conheço e gosto) foi entrevistado por Katie Couric sobre sua opinião com relação a vários assuntos, incluindo casamento de mesmo sexo. Para parafraseá-lo (em minhas próprias palavras), ele basicamente disse que Jesus apenas lidava com as questões fundamentais do coração e não com os sintomas do pecado. Ou seja, Jesus nunca tomou uma posição quanto às questões morais de seus dias. Para nós, isso significa que não devemos fazer declarações gerais com relação às questões morais da sociedade, mas sim lidar com elas através do diálogo pessoal.

Eu quero fazer algumas observações sobre essas declarações:

Eu concordo que Jesus não atacou diretamente os problemas morais da cultura que o cercava. Mas isso porque seu foco era se revelar como o Messias para as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 10.5-6). Portanto, apesar de não ter focado nos problemas morais do Império Romano, Jesus lidou com questões morais controversas ligadas aos Judeus, como casamento, adultério e divórcio (Mateus 19.4-10); ganância e dinheiro (Lucas 12.13-21); e o verdadeiro significado do sabá (Marcos 3.1-6). Como Israel era uma teocracia, não havia separação entre fé e lei civil. Então ele estava, sim, tratando de assuntos muito salientes de sua época, que eram religiosos, legais e até mesmo políticos.

Além disso, em Marcos 7.20-23 Jesus mencionou vários pecados, incluindo imoralidade sexual, que ele descreveu como sendo oriundo de pensamentos maus e que contaminam as pessoas. Seu ponto de referência para a definição de imoralidade sexual é encontrado no Antigo Testamento; a lista mais abrangente é encontrada em Levítico 18. Este capítulo nos ensina que todas as relações sexuais entre um homem e uma mulher fora do casamento são pecado. Jesus não precisava reafirmar tais pecados especificamente porque ele falava com Judeus, que já conheciam a lei.

Ademais, ele disse que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la. Ao dizer isso ele validou as definições de moralidade do Antigo Testamento (Mateus 5.17-20). Além de que historicamente a igreja adotou um corpo de escrituras que inclui todos os 66 livros de ambos os testamentos, e não apenas os quatro evangelhos. Então, para proclamarmos fielmente a palavra precisamos de todo o conselho de Deus contido em toda a escritura, a qual Jesus disse apontar para ele (Lucas 24.27). Ele não agiu isoladamente dos antigos profetas, mas apontou para o Velho Testamento para reafirmar sua legitimidade.

Portanto, para respondermos às perguntas relacionadas ao título deste artigo, precisamos incluir os profetas do Antigo Testamento e as escrituras do Novo Testamento, que aplicam de maneira prática os ensinamentos de Jesus. Por exemplo, os dois primeiros capítulos do livro de Amós são um comentário dos eventos contemporâneos com relação aos pecados das nações vizinhas; todos os profetas do Antigo Testamento, de Samuel a Elias, lidaram com as questões morais e sociais contemporâneas; e até mesmo João Batista explicou a seus adeptos em potencial que verdadeiro arrependimento significava que deixassem de receber subornos e extorsão (Lucas 3.12-14), que eram sintomáticos da decadência moral e social da cultura Greco/Romana/Judaica e não apenas uma questão de transformação pessoal (verdadeira mudança interna sempre resulta também em mudança no comportamento).

Finalmente, o que esse pastor diria sobre o Apóstolo Paulo, que não apenas chamou de pecado várias práticas que são controversas hoje, mas também disse que aqueles que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus (I Coríntios 6.9-10)? Falando a verdade em amor, precisamos ser honestos no púlpito no que diz respeito às nossas crenças ou corremos o risco de iludir nossos rebanhos e/ou ter igrejas sincretistas que vagam entre cristianismo bíblico e paganismo humanista. As mãos do Apóstolo Paulo estavam inocentes de todo sangue porque ele nunca parou de pregar todo o conselho de Deus (Atos 20.26-27)!

Embora eu concorde com meu colega pastor que o foco principal da pregação nas igrejas deva ser mudança pessoal, intimidade com Deus e transformação interior, em momentos apropriados e com muita humildade, amor e inteligência, pastores são obrigados a tomar posição publicamente em questões morais e sociais relevantes! Devido ao fato da igreja liderar o caminho em servir de maneira prática nossas cidades, suprir as necessidades holísticas de nossas comunidades e amar nossos vizinhos (independentemente de suas cosmo visões ou estilos de vida), nossa voz profética com relação à questões controversas não será facilmente ignorada!