Ao longo dos anos, estive muito interessado em aplicar o Evangelho do Reino de Deus na cultura. Por isso, estudei e estive intimamente envolvido com vários modelos diferentes relacionados a este assunto. Os conceitos concernentes à maneira na qual a igreja deve abordar a cultura variam de apenas afetar a qualidade de vida de uma comunidade à profundos avivamentos que resultam em transformação. Os cinco modelos a seguir resumem minhas observações e opiniões quanto a essas várias abordagens.

1. O Modelo Humanista

Este é um modelo ao qual várias organizações cristãs de ajuda humanitária parecem aderir. Sua ideia de transformação tem a ver com afetar positivamente a vida de uma comunidade ou povoado. Como exemplo, eles podem dizer que trouxeram transformação a uma aldeia africana ou indígena, mas quando examinamos mais a fundo vemos que eles se referiam a cavar um poço para que tivessem água fresca, ou instalar um gerador para que tivessem energia elétrica.

Isso é bom porque salva vidas. Mas para esse modelo em particular a qualidade de vida parece ser o alvo, ao invés da salvação dos moradores. Portanto, enquanto agora podem ter água fresca, talvez ainda estejam adorando aos seus deuses Hindus ou aderindo a uma falsa religião.

Muitos (incluindo a mim), acham que este não é o modelo bíblico, pois sem unir a transformação ao Senhorio de Cristo, poderia ser visto como nada mais do que humanismo.

De fato, humanitarismo sem Cristo é mero humanismo. Ao menos que, é claro, os crentes envolvidos neste tipo de trabalho deixem bem claro aos servidos que eles fizeram tudo isso por que o amor de Cristo os impeliu!

2. O Modelo do Desenvolvimento Comunitário

Estive envolvido com esse modelo enquanto presidente do NYC American Cities Campaign juntamente com o Dr. John Perkins, em 1995. Neste modelo a igreja é encorajada a capacitar os pobres criando empregos, abrindo negócios e estando conectados e comprometidos com a melhoria social de uma comunidade.

Este modelo aponta para Cristo porque é liderado por iniciativas da igreja que combinam a pregação do evangelho com a capacitação dos pobres. Ao contrário de apenas “marchar para Jesus”, os cristãos são encorajados a “se mudar por Jesus” e a viver entre os pobres e necessitados a quem estão tentando alcançar através do evangelho. Não viver entre as pessoas às quais estamos ministrando remete ao paternalismo ou à abordagem paraquedas, na qual saltamos em resgate dos pobres e então vamos embora assim que o evento da igreja ou o culto terminam.

Perkins e o missiologista Dr. Ray Bakke impactaram grandemente minha vida, me equipando com uma teologia que é poderosa o suficiente para alcançar e transformar uma comunidade urbana.

3. O Modelo do Avivamento

O modelo avivalista original de Finney (século XIX), de Edwards (século XVIII) ou o Avivamento Galês (do começo do século XX) combina a pregação do evangelho à transformação social. Há basicamente três estágios em cada um desses avivamentos:

A. Preparação: Havia um punhado de pessoas que clamaram a Deus durante muito tempo pelo avivamento até que Deus as ouviu.

B. Visitação: Havia uma indelével presença de Deus sobre a comunidade. Até mesmo quando gentios chegavam perto do epicentro de um desses moveres de Deus, eles criam e entregavam suas vidas a Cristo. Nessa época, havia uma energia sobrenatural que capacitava pastores e ministros a trabalharem e orarem por horas a fio dormindo muito pouco, sete dias por semana durante vários anos sem danos à saúde física ou à família.

C. Transformação: Esses moveres incríveis de Deus resultaram em mudanças sociais onde vários bares foram fechados e convertidos em igrejas, a moral da comunidade foi reerguida e a criminalidade diminuiu drasticamente. (Alguns moveres contemporâneos relatados nos Transformational Videos produzidos por George Otis, Jr., demonstram que a agricultura e a produção multiplicaram em quantidade e qualidade e a vida selvagem, como os peixes, retornou às suas áreas!)

Este é provavelmente o modelo que mais puramente exalta a Deus entre os cinco mencionados neste artigo, por combinar a transformação com Sua presença e poder. Assim, quando a transformação ocorre todos sabem que é um resultado da intervenção divina e Deus recebe toda a glória. Nos outros modelos mencionados, sociólogos podem argumentar que a mudança qualitativa veio meramente como resultado das melhores políticas sociais e econômicas que foram implementadas, mesmo que tenham sido lideradas por cristãos e/ou organizações cristãs. (É claro que isso ainda é importante porque demonstramos que somos seguidores de Cristo principalmente por nosso amor ao próximo.)

4. O Modelo da Reconstrução

O modelo da Reconstrução Cristã, como aderido por Rousas John Rushdoony, Gary DeMar, Gary North e outros é esclarecido por um entendimento incrível de como a lei civil e moral do Velho Testamento pode ser aplicada na cultura. A obra de Rushdoony, “The Institutes of Biblical Law”, ateou fogo no mundo evangélico. Muitos o consideram como o pai do Direito Cristão por ter ensinado como os Dez Mandamentos se aplicam às leis e políticas modernas.

A crítica de muitos em relação a esse modelo é a percepção de que a transformação está largamente conectada a uma mera mudança das leis sem um verdadeiro fenômeno espiritual (visitação de Deus) como no modelo do Avivamento. Portanto, essa visão corre o risco de defender que a cultura é afetada apenas (ou principalmente) pela engenhosidade humana em conjunto com uma legislação, economia e políticas públicas baseadas na bíblia, sem endereçar as outras esferas culturais (artes, música, mídia, etc., apesar de que não acredito ser verdade ao ler tudo que escrevem).

Além disso, muitos defensores deste movimento abraçam uma visão da lei do Velho Testamento em que as 613 leis se aplicam fielmente nos dias de hoje. Assim, defendem a pena de morte para o adultério, homossexualismo e outras ofensas éticas como mencionadas no Pentateuco.

Outros, como eu, ensinam que apesar dos Dez Mandamentos ainda serem nossos padrões éticos para indivíduos e a sociedade civil, devemos apenas extrapolar princípios das 613 leis civis do Velho Testamento. Além do mais, minha posição é a de que a Nova Aliança modificou e aboliu ofensas capitais para a maioria dos pecados, incluindo rebeldia de filhos e pecados sexuais, devido a vindoura plenitude da graça e o Espírito que agora pode regenerar pecadores.

5. O Modelo do Reino Paralelo

Este é um modelo a que muitos evangélicos provavelmente aderem sem saber. Alguns disseram que esta é a posição de Santo Agostinho como revelado em seu livro “A Cidade de Deus”, e outros grandes líderes na história.

Basicamente, quem tem esta visão crê que nunca seremos capazes de transformar verdadeiramente uma cidade ou nação. Consequentemente, devemos nos focar principalmente na igreja e na evangelização e construir congregações grandes e fortes. Desta maneira, com grandes igrejas profundamente engajadas em evangelismo haverá uma repercussão que inadvertidamente resultará em alguma forma de transformação social. A ideia é que se houver igrejas modelo em que muitas pessoas vem a Cristo e se juntam às congregações então a moralidade e a ética de uma comunidade irão ser automaticamente afetadas de forma positiva, mesmo que a transformação da comunidade em si não seja o alvo. É claro que há um grande mérito nisso e muitos poderiam até dizer que tem ocorrido intermitentemente através da história e que era o modelo de Wesley e Whitefield na Inglaterra.

Mas eu creio que este modelo deixa a desejar porque atualmente há muitos países com uma grande porcentagem de evangélicos (por exemplo, várias nações que visitei na América Latina e na África) em condições precárias e altas taxas de criminalidade apesar da maioria da população ser evangélica! Em alguns desses países, 80% do povo se declara evangélico, tendo muitas megaigrejas. Mas essas mesmas pessoas não tem eletricidade ou água corrente! Por exemplo, um país na América Latina tem mais de 65% de sua população dentro de igrejas evangélicas mas eles lideram o continente em número de homicídios!

Portanto, eu acredito verdadeiramente que precisamos conectar intencionalmente a mensagem do evangelho ao Reino de Deus e disciplinar pro ativamente líderes de mercado emergentes e defensores culturais para que vejamos mudança sistêmica. Se pregarmos apenas um evangelho individualista, iremos alcançar massas de pessoas que não saberão aplicar sua fé no âmbito público, resultando em líderes cristãos que perpetuam uma cosmovisão humanista na política e na cultura.

Para finalizar, há outros modelos de transformação dos quais posso ter me esquecido, mas esses são os cinco modelos principais baseados em meus próprios estudos e observações pessoais. Eu oro para que este artigo motive líderes a desejarem ver o evangelho transformar suas comunidades, e não apenas suas congregações, para a glória de Deus!